O potencial
dialógico da arte, de um modo geral, é analisado por Eco (1976), em Obra Aberta , onde
sugere possibilidades de intervenção do público em obras de artes, no que diz
respeito a interpretação e a colaboração. Para Eco, uma obra de arte é aberta
quando possibilita ao público diversas interpretações. Eco nos diz que o
intérprete, no caso o público, ao entrar em contato com uma obra aberta, é
oportunizado a ser “centro ativo de uma rede de relações inesgotáveis, entre as
quais ele instaura a sua própria forma (1976, p.41)”. Esse mesmo processo de
abertura, na internet, gera não só uma interpretação individual, mas
torna o público parte da obra.
Esse aspecto de
abertura da obra gera uma outra característica essencial na arte digital, que é
a sua virtualidade. Aliás, se pensarmos de forma mais abrangente, concluiremos
que toda a arte é virtual, uma vez que ela sempre é potencialmente algo novo. Para
Levy (1995, p.15), o virtual não se opõe ao real, mas ao atual. O autor diz
também que "virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras de ser
diferentes”.
Nesse sentido,
independente de ser caráter digital ou analógico, a arte por si só convida o
indivíduo a se retirar, nem que seja por segundos, do “mundo real” e inserir-se
no mundo virtual que ela proporciona.
É quanto ao poder
criativo da arte que Levy (1995, p.79) nos diz que “a arte virtualiza o
virtual”. Nesses termos, a arte digital constitui-se como auge das
possibilidades criativas, pois é potencialmente atual a cada intervenção e
interação. Assim, o universo artístico
na cibercultura, configura-se como um mundo regido pela criatividade que nos
leva pelo imaginário viver esse “entre lugar” (SERPA, 2002) entre a realidade e
a virtualidade.
Em rede, o
potencial de virtualidade nas relações aumenta, pois aumenta o acesso, e
possibilitam outras vivências virtuais e reais em acontecimento, através da
hipertextualidade e da interatividade. A internet, então, possibilita a
relação virtual e as atualiza visivelmente. Para Ascott,
[...] assim como a realidade virtual em rede transporta a
nossa telepresença, e nos dá as ferramentas para reconfigurarmos nossas
próprias identidades, a vida social está se tornando não apenas mais complexa,
mas também mais imaginativa. Como já insisti muito, há amor no abraço telemático.
(2003, p. 34).
Que as tecnologias mudam apenas as condições da criação
artística. Mas as mudam em profundidade, mudando concomitantemente, as
condições do trabalho do imaginário, das relações entre subjetividade e
automatismos mecânicos, bem como da produção e circulação do sentido (COUCHOT,
2002, p.105).
Com a
descentralização do criador com a obra e com a permissão e a liberdade de
interação do público, este assume outro papel no processo, um papel
determinante para a obra acontecer: o papel de co-autor. Ela pode ser
interativa, estática, dinâmica, digital ou analógica. O que muda são as
permissões que o autor dá para o seu público, se este possui liberdade de
intervir simultaneamente na obra.
Nesse sentido,
essa arte sempre é inevitavelmente colaborativa e cooperativa. Nasce com
pretensões mais ambiciosas para o seu público que deixa de ser 'receptor' e se
torna parte integrante da obra ou passa a ser autor e/ou co-autor.
A rede materializa relações colaborativas
quando nos mostra as possibilidades de interpretação do público não mais só nas
suas mentes, agora, em intervenções disponíveis ao mundo. Um exemplo são os
wikis, ferramentas livres e colaborativas na web e abertas à
intervenções, incluindo artísticas: desenhos, animações, textos, charges, cartoos,
instalações, entre outros.
Essa postura de colaboração,
perante a produção de conhecimento é própria de uma sociedade que, devido ao
seu contexto científico-tecnológico, não quer mais ser só consumidora,
receptora, espectadora.
Por esse motivo, vivências
artísticas dentro da cibercultura podem ajudar a dissolver, inclusive,
concepções tradicionais dentro do ensino da arte, pois padrões artísticos,
cultuados pelo academicismo, advindos da cultura clássica norte-americana e
européia, podem ser repensados, uma vez que na rede se pode copiar, colar,
modificar, interagir, distribuir, refazer, desfazer. A arte digital, nesse
sentido, tem o processo como parte da obra. Prima pela
participação e pela construção de novos sentidos. Nesse sentido, Prado (2002,
p. 117) diz que "o artista é mais um potencializador de ações do que um
produtor de artefatos".
Aliar uma visão de arte (digital)
libertadora e colaborativa a uma cultura (digital) descentralizadora pode nos
levar, de fato, à uma vivência social mais digna e menos competitiva, quando
intencionadas a isso. Afinal, "a criação em rede é um lugar de
experimentação, um espaço de intenções, parte sensível de um novo dispositivo
tanto na sua elaboração e na sua realização como na sua percepção pelo
outro" (PRADO, 2002, p.123). A inclusão digital através da arte, dessa
forma, pressupõe e proporciona uma quebra de concepções preconceituosas,
elitistas e conservadoras sobre a arte. A hibridação entre autor e
público/espectador permite outra relação com a obra. Assim, o papel artista na cibercultura muda e transforma o olhar, o apreciar, aguça a percepção e oferece outras direções.
Referências
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In: LEÃO, Lúcia. Interlab:
Labirintos do Pensamento Contemporâneo. São Paulo: Iluminuras, 2002. p.31-37.
COUCHOT, Edmound. O
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Lúcia. Interlab: Labirintos do Pensamento
Contemporâneo. São Paulo: Iluminuras, 2002.
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Pierre.
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Paulo: Ed. 34, 1999.
LEMOS, André. Cibercultura:
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Disponível em:<
PRADO, Gilbertto. Experimentações
Artísticas em Redes
Telemáticas e Web. In: LEÃO,
Lúcia. Interlab:
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SERPA, Felippe. O Mal estar da contemporaneidade.
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http://www.faced.ufba.br/rascunho_digital/textos/177.htm> Acesso em: 20 out.
2007.
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