Este posicionamento que busca introduzir
todas as escolas no ciberespaço, se descontextualizado, adapta-se a uma
abordagem industrial e racional da educação. Esta abordagem visa justamente que os sujeitos tenham, todos, acesso igual às tecnologias de ponta. Com isso visam sujeitos mais aptos ao mercado de trabalho.
Os paradigmas
industrial e mecanicista assemelham-se ao paradigma tecnológico e são os
paradigmas dominantes da nossa educação. No paradigma tecnológico, há também a
preocupação com o mercado de trabalho, com os avanços científicos e para
Bertrand e Valois (1994, p.108), esse paradigma “caracteriza-se por um
interesse evidente pela tecnologia e por um certo esquecimento as questões
educativas”. Para os mesmos autores, “o paradigma tecnológico transforma os
comportamentos dos alunos com o auxílio de tecnologias e pressupõe que a
eficácia e a organização racional são características importantes do
funcionamento da pessoa” (1994, p.109).
É nesse sentido, que
se torna pertinente humanizar o trabalho pedagógico mediado pelas tecnologias,
para que não haja uma confusão metodológica e ideológica. Apesar de estarmos
inseridos num paradigma que prima por ações individuais e mecanicistas, não
significa que estamos condenados aos moldes da sociedade industrial. Para
Bertrand e Valois (1994, p. 40), o paradigma sócio cultural existencial e
humanista “recusa os valores da sociedade industrial e propõem à organização
educativa, paradigmas educacionais que tenham como objetivos o crescimento e a
formação afetiva das pessoas.”
Com o intuito de
rever o estabelecido, e usando os instrumentos tecnológicos que mediam as
relações mecanicistas, é importante buscar ludicamente perceber o mundo
permeado pela mídia não para a simples aquisição de poder de manipulação de
informação, mas para, especialmente, entender os mecanismos de dominação
intrínsecos na sociedade midiática.
Uma estratégia é o
equilíbrio entre as técnicas usadas, bem como, as modalidades artísticas,
intercalando a manipulação técnica com a plástica e a visual. Outra estratégia
é a busca de um ambiente harmonioso, permeado pelo diálogo e não por
imposições. A afetividade pode também ser, espontaneamente, uma estratégia que
permitirá que as crianças adquiram segurança – afinal, são eles quem devem
manipular os instrumentos; confiança em si mesmos, porque são eles quem devem
decidir como ia ser a sua produção; e o senso de grupo. Mesmo em trabalhos
individuais, eles precisam saber que as suas ações influenciam o todo.
O amor, embora não
seja muito citado em publicações científicas sobre educação, faz-se uma
estratégica de dissolução para interesses dominantes da educação. O amor não se
planeja, simplesmente acontece. Esse posicionamento está em consonância com a
“Pedagogia Nova”, proveniente do movimento da Escola Nova, acontecido no Brasil
em 1930, tendo originado-se nos Estados Unidos no século XIX. Segundo Ferraz e Fusari,
[...] sua ênfase é a expressão, como um dado subjetivo e individual em todas as atividades, que passam dos aspectos intelectuais para os afetivos. A preocupação com o método, com o aluno, seus interesses, sua espontaneidade e o processo de trabalho caracterizam uma pedagogia essencialmente experimental, fundamentada na Psicologia e na Biologia (1997, p. 31).
O pensamento
racionalista tende a desprezar a afetividade, e a introdução dos meios
tecnológicos estão ligados à rapidez, à qualidade total, à habilidade técnica
desprovida de reflexões e sentimentos.
Só que o ser humano não é só racional, é também afetivo. E tende a
aprender mais quando a afetividade faz-se mediadora dos processos. Por isso, o
sistema educacional a menospreza. Ela não condiz com os interesses dominantes,
que buscam a acomodação do sujeito em formação perante os moldes sociais. Na
abordagem tecnicista e dominante, “o aluno aprende a dominar as suas emoções e
seu comportamento, assim como a reprimir as suas tendências (BERTRAND e VALOIS,
1994, p.102)”.
Por isso, a arte
faz-se importante dentro dos processos educativos, e deve permear os contatos
com as tecnologias, com a comunicação, com a informação. A arte recria
conceitos e possibilita interpretações novas da realidade e reutiliza
instrumentos tornando-os neutros. Entretanto,sobre a abordagem tecnicista ainda
presente nas escolas, Ferraz e Fusari dizem que:
Nas aulas de arte, os professores enfatizam um “saber construir” reduzido aos seus aspectos técnicos e ao uso de materiais diversificados (sucatas por exemplo), e um “saber exprimir-se“ espontaneístico, na maioria dos casos caracterizando poucos compromissos com o conhecimento de linguagens artísticas (1997, p. 32).
Dentro do processo
artístico, além da afetividade, a imaginação, o poder de criação e a
manipulação da auto-expressão, através das diversas linguagens artísticas,
fazem-se práticas humanas dentro do processo pedagógico. Entretanto, segundo
Duarte Júnior,
[...] o ato da criação é então, um ato proibido no mundo
civilizado e tecnocrático. Apenas a criação de novas formas de ampliar os seus
domínios é bem aceita; somente a produção que se possa converter em lucro é
assimilada. Estes são limites impostos a criatividade (1981, p.101).
[...] o homem utiliza a linguagem para ordenar e significar o
mundo, mas ela condiciona sua percepção e seu pensamento. E ainda, construindo
a cultura, o homem é por ela constituído. Tal fato ocorre também no mundo
artístico: através da arte chegamos a conhecer nossos sentimentos, mas ela
amolda-os (educa-os) segundo determinados padrões e códigos Simbólicos (1981,
p. 106-107).
Por isso, a arte da
cibercultura permite o contato com os sentimentos pessoais e coletivos. Faz-se
diferente, pois se pauta numa outra lógica de criação e difusão. A educação
para a arte, então, precisa promover, através da prática, reflexões sobre a
estética e direcionamentos éticos e ideológicos no processo de produção
artística.
Referências
BERTRAND, Yves; VALOIS, Paul. Paradigmas educacionais: escola e sociedades. Lisboa: Instituto Piaget, 1994.
DUARTE,
JUNIOR, João Francisco. Fundamentos estéticos
da educação.
São Paulo: Cortez, 1981.
____________. Por
que arte-educação. São Paulo: Papirus,
1996.
FERRAZ,
Maria Heloísa C. de T.; FUSARI, Maria Felisminda de Rezende e. Metodologia do ensino de
arte. São Paulo: Cortez, 1997.
NUNES, Ana Luíza R. Trabalho, arte e educação: formação
humana e prática pedagógica. Santa
Maria: Editoraufsm, 2003.
* Cartoons de nossa autoria 2006
oi Ro... Concordo que devemos pensar num uso da cibercultura contextualizado. Acredito que muitos dos professores tem capacidade e criatividade para adaptar o que se tem disponível para sua realidade! Beijos
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